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Textos do Mês
  • Esta é uma pequena seleção das centenas de textos da Poeta.
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Poesia Falada: Confira tudo sobre o CD no link Verso em Voz
Maiores informações: contato@poetaflaviacortes.com.br

 Nesta página, são publicados os textos, a medida em que vão sendo escritos.
Normalmente, há versos novos toda semana.
Então, para ler mais sobre Flávia Côrtes, 
basta acessar o site e vir aqui ver o seu Verso.

Poema Verde

A árvore era muito antiga.
A ponto de eu ter que envergar-me
para admirar a cabeleira altiva
suspensa duas dezenas de metros acima de mim.

O enorme tronco de textura enrugada
dividia-se em dois
pouco acima da linha do meu olhar.

Havia decidido ser duas aquela árvore.

Os galhos grossos eram cobertos
por uma delicada folhagem tricotada.

A folhagem, se um dia parasita,
tomou-se de tal amizade pela árvore
que ficou ali
a aquecê-la e enfeitá-la.

Da ponta dos galhos laterais,
derramava-se como um xale
que a árvore, vaidosa, sustentava,
enquanto me dizia o poema
que aqui eu transcrevo.

Ao seu lado, uma árvore menor crescia à sombra.

E os galhos das duas,
em alguns pontos, se misturavam,
em um silencioso e terno dar de mãos.

Sentei-me numa pedra branca
que alguém,
em algum século,
colocou abaixo da árvore-poema.

Não sei quanto tempo ficamos ali as cinco.

Eu,
a pedra que era branca,
a árvore que era duas,
a folhagem que era xale
e a árvore que era menina.

Talvez o tempo de um poema.

Talvez o tempo necessário
para que eu pudesse levar
por uma vida
a beleza daquele instante.

(Flávia Côrtes – Julho de 2012)

Nota da Autora:

Este texto germinou em mim em uma semana que passei no Hotel Fazenda Villa-Forte, um lugar mágico, repleto de história e com uma paisagem que transborda dos olhos direto para a alma.

Eu poderia escrever dezenas de outros poemas e não conseguiria contar como é lindo o lugar.

Então, é melhor vocês conferirem tudo no site deles:

http://www.villa-forte.com.br

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Provocações

O olhar trazia uma afirmativa
que me isentava da resposta.

O que eu lia nos teus olhos
me fazia baixar os meus.

Eu que sempre soube sustentar olhares .

A recomendação
era seguir pelo caminho do meio
para não perder o equilíbrio.

Logo a mim,
a quem encantam extremos.

Tinha uma lua amarela no céu
e a tua lembrança
me provocava
verso.

Não era para te provocar
mas te saber provocado
sempre me deixa
provocante.

Se isso não fosse um poema
e eu estivesse sob os teus olhos,
provavelmente,
não diria tanto.

Mas, como páginas brancas
não ruborizam,
eu verso.

Mergulho no invisível.

Um poema não escrito
É assim como um sonho não contato.

Submerge no esquecimento
antes que o segundo pensamento lúcido
dissipe dos olhos
o encanto.

Às vezes, no meio do dia,
palavras soltas do verso esquecido
invadem.

Lembrança ou inspiração?

Seja como for,
estranha a sensação.

Um saber o que não se sabe.
Um sentir o que não se sente.
Uma vontade de comer uma coisa e não saber o que é.

E a poeta,
que não sabe lidar com “quases”,
mergulha no invisível
atrás do canto da sereia.

Algumas vezes, retorna com uma pérola entre os dedos.
Outras, só traz dentro de si o mergulho.

Confesso
que entre a pérola e o mergulho
eu abro os dedos
e salto.

Sobre momentos, nadas e manias

Haverá momentos
em que nada
ou quase nada
fará sentido.

Porque esta
é uma característica do  Momento.

Momentos são,
por natureza,
instantes.

Equilibram-se na curva do minuto.

Não chegam à segunda volta
do menor ponteiro
idênticos,
e têm essa mania.
Mania de ser.

E, é por isso mesmo,
que haverá  momentos
em que nada
ou quase nada
fará sentido.

Porque esta
é uma característica do Nada.

Bolha de sabão sustentada no ar por olhar de menino,
espuma do mar que se acha sonho de sereia,
risco de avião que pensa que é nuvem,
e, lá vem o Nada,
com essa mania.
Mania de ser.

Deve ser por isso.
Por insistência do Momento
Por perseverança do Nada
que as pessoas, por fim, percebem
o que faz sentido.

Contagiosa mania esta.
Mania de Ser.

Onde a gente aprende
que para fazer sentido
algumas vezes,
é preciso desistir de fazer sentido.



Insight

Tudo o que se vê
Tudo o que sabemos
Aquilo que amamos

São percepções
Idéias
Ideais

Toda idéia é luz.
Todo o amor é fogo.
Encanta e consome
a labareda.

Filhos de Prometeu
em busca da sagrada chama,
dançamos em volta da fogueira.
Mariposas atraídas pelo brilho.

Cada um em seu próprio altar,
acendendo velas
como quem busca faróis
na noite escura.

Sem perceber
que se é sua a chama,
é seu o brilho.
E sua é a idéia!

Porque o que amamos no outro,
não é bem o outro.

É a idéia que fazemos
daquela pessoa.

Mudou a idéia,
acabou o amor.

Não são os amores que acabam.
São as pessoas que mudam.

Muda quem ama
E muda o ser amado.
E, às vezes, não mudam em sintonia.

Não são os amores efêmeros
Efêmero é o pensamento humano.

Não são os amores que iludem.
Somos nós mesmos!

Tira os olhos do fogo.
Olha para o outro longe da tua luz.
Olha para dentro de si mesmo.
Descobre se está, na verdade,
encantado com o seu próprio pensamento.

As rotações garantem:
Tudo o que está à sombra,
uma hora, ganhará a luz .

A luz do teu olhar.
A luz do teu pensamento.

Ilumina, então, logo, você!

Respingos

E, quando eu já pensava
que a poesia
tinha resolvido
dar um tempo
de mim,

Olho pela janela
e vejo um ar pontilhado
por gotículas minúsculas.

Era uma chuva
tão leve e tão fina
que, por um momento,
eu não soube dizer
se as gotas caiam
ou flutuavam no ar.

E eu me deixei ali.
Olhos flutuando em
gotas flutuantes.

E o pensamento

todo
respingado
em versos.


Olhos de Ver

Não sei se por benção
ou por sina

Se dom herdado
ou carma reencarnadoSe hábito de infância
ou gosto adquirido

Memória coletiva
ou lembrança individual

Mas nasci
com olhos de ver o minuto
e ouvidos de escutar o instante.

Me cativam o olhar efemeridades do mundo.

Sol entrando por fresta de persiana
Vento brincando de textura em espelho d’água
Sombra de nuvem criando tons de verde na montanha

Me encantam os ouvidos ruídos do dia.

Barulho de edredom roçando no corpo
Vento assobiando em fresta de janela
Som de água ecoando dentro do crânio embaixo do chuveiro

Me surpreendem sensações da vida.
E deixo a alma fabricar momentos.

Sol esquentando pele recém-saída de ar condicionado.

Luz do dia batendo em pálpebra fechada
quando eu paro,
ali na esquina,
para um suspiro.

Porque suspiro bom
é suspiro de olhos fechados.

Em átimos de encanto
colhidos no dia,
paro o pensamento

Só para me deixar sentir
a sensação que dá
estar viva.

E celebro!

Bússolas

Você sabe o que te move?
Você sabe o que te brilha o olho?Não estou falando de precisões.

Não me refiro a contas pagas.
Nem a três refeições diárias.
Muito menos ao teto sobre a tua cabeça.
Nem mesmo ao afeto nas tuas relações.

Não falo
das humanidades.

Falo daquilo que te identifica,
do brilho da tua retina,
do que te mantém desperto,
do que te acende,
do que te move.

Vontades?

Não.
Vontade é uma coisa que dá e passa.

Eu falo da tua paixão.

Você sabe
mesmo
o que te move?

Porque, se não sabe,
não vai a lugar algum.

Ou pior.
Vai a qualquer lugar.

E. se já sabe, te pergunto agora:

Você sabe quem te é caro?
Você sabe quem te brilha o olho?

Porque se não sabe,
aquele lugar onde você está indo…

Bem…
lugares são só lugares
coisas são só coisas
feitos são só acontecimentos

No fim das contas,
o que nos faz felizes
não é o “aonde”
não é o” que”
não é nem o “como”

A vida toda da gente
se resume
a um “com quem”.

Abracadabra

A esta altura dos acontecimentos,
muitas coisas aconteceram
e algumas
desaconteceram.

Exatamente
como é para ser.

Não dá para controlar
tudo o que acontece
na vida da gente.

Mas o que desacontece?

Desacontecimentos nos pertencem!

Só desacontece
o que a gente permite
que desaconteça.

Então, se não quer
que desaconteça,
não deixe
desacontecer!

E, se quer
que desaconteça,
faça você
o movimento mágico.

Não precisa uma cartola
Não precisa um coelho
Não precisa lenço colorido
Não precisa assistente

Olhe calmamente
para dentro de si.

Prenda o olhar
em você mesmo.

Senhoras e senhores,
como podem ver,
nada nesta mão
e nada
na outra!

Abracadabra!

Pesquisa básica sobre a origem da palabra, para quem tiver curiosidade de ler…

Há muitas coisas legais na Wikipédia sobre a palavra “Abracadabra”… eu separei para vocês só o que gostei mais:

Abracadabra é uma palavra mística usada como encantamento e considerada por alguns a frase mais pronunciada universalmente em outras linguagens sem tradução.

Etimologia (ADOREI ISSO!!)

Existem hipóteses estreitamente relacionadas acerca de sua origem:

Uma possivel fonte é o Aramaíco:אברא כדברא avrah kahdabra que significa:

“Eu crio enquanto falo”

Outra possível fonte é do Hebreu: Aberah KeDabar: “Irei criando conforme falo”

História (AMEI ISSO!!)

A primeira menção conhecida à mesma foi feita no segundo século depois de Cristo , durante o governo de Septímio Severo, num poema chamado De Medicina Praecepta (em um tratado médico escrito em versos), pelo médico Serenus Sammonicus, ao imperador de Roma Caracalla, que prescreveu que o imperador usasse um amuleto com a palavra escrita num cone vertical para curar sua doença:

A B R A C A D A B R A
A B R A C A D A B R
A B R A C A D A B
A B R A C A D A
A B R A C A D
A B R A C A
A B R A C
A B R A
A B R
A B
A

De acordo com Godfrey Higgins, tinha origem em “Abra” ou “Abar”, o deus Celta, e “Cad”, que significa Santo. Era usado como um talismã, com a palavra gravado sobre um Kameas (Amuleto quadrado), transformando-se em um amuleto.

Segundo, Helena Petrovna Blavatsky, Higgins estava quase certo, o termo era uma corruptela da palavra gnóstica “Abraxas” e essa, por sua vez, era uma corruptela de uma palavra antiga sagrada copta ou egípcia, uma fórmula mágica que significava “não me firas”, sendo que seus hieroglifos se referiam à divindade como “Pai”. Era comumente utilizado sobre o peito sob as vestimentas.

Deixa eu te dizer um verso novo?

Um poema é sempre inédito.
Ainda que você já o tenha lido.

É por isso
que você nunca termina
de ler um livro de Poesia.

Cada leitura desvenda
algo novo.

Mas não foi
o poema
que mudou.

Cada letra
ainda é a mesma letra
que o poeta escreveu.

É o olhar de quem lê
que ilumina o verso
com outras cores
outras sombras
outros brilhos.

Novos significados descobertos.
Ou, quem sabe, os mesmos
em alguém, agora,
diferente de si mesmo.

E se encanta novamente
é porque
encanta
uma nova
mente

Somos nós
que, milagrosamente,
nos modificamos a cada instante.

No  momento
em que terminar de ler este poema,
você
já será outro.

E, no minuto exato,
em que eu terminar
de dizer este verso
eu
já serei outra.

Podemos, então, nós dois
recomeçar o verso
juntos.

E será um novo verso.

Um déjà vu encantado
da Poesia Humana.

Então,
deixa eu te dizer um verso novo?


Dízima Periódica

O tempo diz que tem um mês
O tempo não sabe
Que a saudade multiplica
Os dias
À eternidade
De que me vale o calendário
Quando a saudade
Repete infinitas vezes
A tua falta

Quanto tempo?
Que importa

Para sempre
é tempo demais.


Esboço de um Poema para um Pai

Eu nunca consegui escrever um poema para o meu pai. Escrevi alguns contos e prosas inspirados em episódios que me marcaram no convívio com ele, é verdade.
Mas um poema… ?
Desses que transbordam a alma?
Não consegui ainda.

Acontece que o sentimento que eu tenho pelo meu pai é tão vasto, tão amplo, tão diversificado… que eu nunca consegui esparramar em papel uma face apenas disso tudo.

Pareceria pobre.
Seria pouco.

Como falar do espelho sem falar do riso?
Como falar do riso sem falar do chão?
Como falar do chão sem falar da escola?
Como falar da escola sem falar do ombro?
Como falar do ombro sem falar do amigo?
Como falar do amigo sem falar do Pai?

E agora?
Como falar do Pai,
sem falar da Falta?

E como não falar?

Dia desses, Papai, eu ainda consigo
te escrever um poema
que mostre um tantinho
de toda a prosa que tivemos
de toda a poesia que vivemos
nos contos da nossa história
nas crônicas das nossas vidas

Um dia desses, Papai,
ainda te escrevo um poema
que me transborde da alma
um tantinho do tanto
que eu te amo.

O de hoje
É só esboço.

Em Memória de Aderbal Xavier
Pai amado, Avô amoroso, Marido apaixonado e Amigo Leal

Menino Tempo

Descobriu-se cansado
de ser sábio
ou velho

E, dono que era de todas as horas,
fez-se menino.

E, sendo menino,
brincava
com as possibilidades

Assim como quem constrói castelos de areia
Meio como quem descobre desenhos em nuvens

E, mesmo menino,
sabia
das possibilidades

assim como quem sabe da onda na areia
meio como quem conhece o vento na nuvem

E, por ser menino ,
gostava

Da beleza invisível do vento
Da textura macia da onda

E, por ser menino,
sabia

Fazia do Ainda
A aurora do Quando.


Poema para um quase amor

Eu acho que podia ter te amado.
Com uma dessas paixões desesperadas
que cruzam os dias em desatino
por um amor que um dia se perdeu

E acho que podia ter te amado
com uma dessas paixões desencanadas
que cruzam as noites em desvario
Por um amor que um dia se encontrou

Eu acho até que podia ter te amado
Com uma dessas paixões mansinhas
que cruzam manhãs devagarinho
por um amor que nem sabe se viveu

E, certamente, acho
que podia ter te amado
com um amor risonho e leve
desses que refrescam as tardes
e dão calores na gente de madrugada

Mas eu só sei de amores
que tive

Então, meu quase amor,
de quase sorrisos
de quase suspiros
e quase arrepios

Para você dedico um poema
Inteiro

Penélope

Para entender o gênesis do desencanto

Há de se saber a origem do desejo
E aí, é só percorrer o caminho inverso

É um desfazer
Que começa
Em um não fazer

Um se distancia do outro
Sem perceber
O fio preso
No silêncio

E eu aqui
Hora tecelã
Hora Penélope

Desfaço as horas
Enquanto teço
Versos

Desfaço os versos
Enquanto
Teço horas

E enquanto teço
E enquanto verso
Desfaço-te

Invenção

E se todos os amores
Invenções?

E se todos os quereres
Encantamentos?

E se todos os saberes
Vontades?

Então?
Não dirias
ainda assim
o Poema?

 

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Discussão

3 comentários sobre “Textos do Mês

  1. Uau! Que viagem linda pelos versos teus… Parabéns, Flavinha!

    Publicado por sonia arruda | 6 de julho de 2011, 14:58
  2. Êita mês abençoado! Parabéns, Flavinha!!!!

    Publicado por sonia arruda | 6 de julho de 2011, 14:58
  3. Nossa!!! Cada dia mais fã.

    Publicado por mardedansas | 27 de abril de 2013, 22:55

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